
Para comemorar o 75º aniversário da "Mensagem", foi lançado um fac-símile do dactiloscrito que Pessoa entregou nas oficinas tipográficas da Editorial Império, onde o livro foi impresso. Desde a encadernação em tecido que Pessoa mandou fazer do dactiloscrito até à qualidade do papel, tudo foi minuciosamente reproduzido. Tal como no original, a palavra Mensagem aparece redigida a lápis, na folha de rosto, sob o título Portugal (que Pessoa só abandonou no último momento), escrito à máquina e riscado por cima.
Considerado hoje um dos génios literários do século XX, traduzido e estudado em todo o mundo, Pessoa era, em 1934, quando publicou a "Mensagem", um autor lido por um círculo restrito de entusiastas. Na verdade, já então publicara, em revistas, muitos dos seus principais poemas - quer ortónimos, quer assinados com os nomes de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos -, mas poucos os terão lido na época. E alguns dos que os leram estranharam que o criador das grandes odes modernistas de Álvaro de Campos se desse a conhecer ao grande público com uma obra que se arriscava a ser lida como estando em sintonia com a retórica do recém-instituído Estado Novo.






















É a fase dc Michelangdo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo da sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de o acossar. O trabalho avança muito lentamente. Por mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. A família atormenta-o com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar-lhe a concentração para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" -- "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala, que tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma dc 500 ducados. O artista retoma a tarefa.No dia dc Finados de 1512, Michelangdo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dcdicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está ai retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de deus retorcido e retesado no acto da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso; a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas anunciando o Messias. São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar do Papa Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de mihões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.





