domingo, 1 de março de 2009

ANIVERSARIANTE DO MÊS

MICHELANGELO: o nascimento de um génio

A 6 de Março de 1475, em Caprese, nasce Michelangelo Buanarroti. Desde muito cedo começa a demonstrar grandes capacidades na área do desenho, entrando para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnifico - riquissimo banqueiro e protetor das artes em Florença mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos. Michelangelo está em pleno ambiente fisico e cultural do Renascimento italiano. A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia Antiga, o seu ideal de beleza - baseado no equilibrio das formas -, a sua concepção de mundo - a filosofia de Platão. É, apenas, o início de uma carreira brilhante que marcará para sempre a escultura e a pintura.

Das suas mãos saiem esculturas como o David ou a Pieta, esta última, porventura, a sua escultura mais famosa e onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e dássicas.

No mesmo ano em que acaba a estátua de David surge a sua primeira pintura. Trata-se de um tondo - pintura circular - cujas formas e cores fariam com que, pasteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista". É A Sagrada Familia. Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relevo".

Mais tarde, o Papa Júlio II chama-o Michelangelo que tem de responder a novo capricho do Papa : decorar a Capela Sistina. O facto de o mestre ser antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do fresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir á encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista cede mais uma vez. A incumbência - insólita e extravagante - é aceite.
É a fase dc Michelangdo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo da sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de o acossar. O trabalho avança muito lentamente. Por mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. A família atormenta-o com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar-lhe a concentração para saber se o projeto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" -- "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala, que tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma dc 500 ducados. O artista retoma a tarefa.No dia dc Finados de 1512, Michelangdo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dcdicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está ai retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de deus retorcido e retesado no acto da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso; a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas anunciando o Messias. São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar do Papa Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de mihões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.

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